A relação entre idosos e preconceito é multifacetada e vai além dos estereótipos simplistas. Estudos indicam que, enquanto a idade pode trazer maior sabedoria e empatia, também pode consolidar visões de mundo que nem sempre acompanham as mudanças sociais. É importante explorar como esses preconceitos surgem e quais temas são mais sensíveis para a terceira idade.
PRECONCEITO OU VISÃO DE MUNDO?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o preconceito etário (ou ageísmo) não é exclusivo dos jovens. Idosos podem internalizar crenças negativas sobre o envelhecimento, rejeitando características que associam à velhice, como fragilidade ou dependência. Isso, muitas vezes, está ligado a uma cultura que valoriza excessivamente a juventude e despreza o envelhecimento.
Além disso, o ambiente social e educacional em que esses indivíduos cresceram desempenha um papel crucial. Temas como gênero, sexualidade, e mudanças climáticas, que ganharam destaque nas últimas décadas, podem encontrar resistência entre os mais velhos, especialmente se desafiarem normas tradicionais estabelecidas durante sua juventude.
1. Mudanças nos papéis de gênero
A geração atual de idosos foi criada em um contexto onde os papéis de gênero eram bem definidos: homens eram os provedores e mulheres, as cuidadoras. Com as mudanças sociais que trouxeram maior igualdade de gênero, muitas pessoas idosas podem ter dificuldade em aceitar novos papéis, como mulheres em posições de liderança ou homens assumindo tarefas domésticas. Essa resistência, em muitos casos, não é intencional, mas reflete valores enraizados. Superar essa barreira exige paciência, exposição a exemplos positivos e discussões sobre como essas mudanças promovem benefícios para toda a sociedade.
2. Diversidade sexual
A temática LGBTQIA+ ainda é um ponto sensível para muitos idosos, principalmente aqueles que cresceram em ambientes conservadores ou em épocas onde havia forte repressão e preconceito contra essas identidades. Além disso, a falta de contato direto com pessoas LGBTQIA+ pode reforçar estereótipos ou falta de empatia. Campanhas educativas e convivência com familiares ou amigos que fazem parte dessa comunidade têm mostrado que o diálogo pode suavizar preconceitos e promover aceitação.
3. Tecnologia
A resistência dos idosos à tecnologia não está apenas relacionada à dificuldade de aprendizado, mas também a uma sensação de exclusão e desconfiança. Muitos veem o avanço digital como uma ameaça à forma tradicional de viver e se comunicar. Por exemplo, preferem dinheiro em espécie ao uso de bancos digitais ou sentem falta do contato pessoal em vez de interações virtuais. Trabalhar a inclusão digital de forma empática, com paciência e adaptando a linguagem, pode transformar a relação dos idosos com a tecnologia, dando-lhes autonomia e conectividade.
4. Mudanças na linguagem
A adaptação à linguagem inclusiva pode ser um desafio porque muitas expressões que hoje são consideradas preconceituosas eram vistas como normais no passado. Para os idosos, essas mudanças podem parecer exageradas ou desnecessárias, e até despertar a sensação de que “não podem mais falar nada”. Explicações simples, baseadas em respeito e empatia, ajudam a mostrar que a linguagem evolui para refletir uma sociedade mais igualitária e sensível às diferenças.
5. Papel da juventude na sociedade
Muitos idosos percebem que sua experiência de vida é desvalorizada em favor de um culto à juventude. Essa exclusão pode gerar um preconceito reverso, onde o jovem é visto como desrespeitoso ou sem interesse em aprender com os mais velhos. Reverter essa percepção passa por criar espaços onde gerações interajam, como projetos comunitários, programas de mentoria e encontros culturais. Assim, os idosos podem compartilhar sua sabedoria e aprender a valorizar as perspectivas mais jovens.
Apesar desses desafios, é fundamental ressaltar que nem todos os idosos são inflexíveis ou preconceituosos. Na verdade, muitos se mostram receptivos a novas ideias, especialmente quando há oportunidades de diálogo intergeracional. Projetos como os da Universidade Aberta à Terceira Idade, por exemplo, promovem debates e aprendizados que ajudam a reduzir preconceitos .
A solução, como apontam especialistas, está na promoção de um envelhecimento ativo, na educação continuada e na criação de espaços onde os idosos possam se sentir ouvidos e valorizados. Afinal, preconceitos podem ser desaprendidos, e a troca de experiências entre gerações é enriquecedora para todos.
Fontes:
• Jornal da USP sobre preconceito e envelhecimento .
• Estudos da PUC-Campinas sobre ageísmo e mudanças culturais .
• Relatórios da OMS sobre a visão dos idosos no contexto social global